Por: Manuel Luis
Durante solenidade de colação de grau de meu filho Daniel, ouvi de um ilustre e festejado professor uma frase que me marcou. Não me lembro exatamente das palavras que o mestre pronunciou, mas uma delas me marcou para valer: “armário”.
Referia-se ele, na minha visão, aos métodos tradicionais de ensino do Direito para compará-los com os inovadores métodos da Faculdade de Direito de São Paulo da FGV.
Fiz minha graduação na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e me peguei perguntando se minha formação havia sido feita dentro de um “armário”, com métodos tradicionais de ensinamentos que lançaram raízes profundas na minha formação jurídica, testada e provada em 40 anos de profissão.
Primeiro questionamento que fiz a mim mesmo, pensando nos então formandos, foi a ousadia do homenageado professor de qualificar tão tradicional e testado método de ensino de método ultrapassado. Levei um choque de demorada assimilação. Pensei me perguntando: teremos um conflito? Quão sólida e eficiente terá sido esta formação, já que se trata da primeira turma e portando, inexperiente metodologia da novel faculdade de Direito?
As minhas dúvidas iniciais foram se dissipando com os primeiros trabalhos e desafios que o recém-formado foi enfrentando com grande sucesso.
Ainda na faculdade, Daniel foi se envolvendo cada vez mais com as atividades estudantis, unindo-se aos colegas para criar o Centro Acadêmico. Nas atividades curriculares, envolveu-se ativamente e coletivamente para participar de “moots” e estudos relacionados à mediação e à arbitragem, matérias inovadoras no ensino do Direito que, como numa olimpíada, o seu time trouxe para o Brasil, via Faculdade de Direito da FGV, a medalha de ouro, ou seja, o primeiro lugar na competição do Moot Court da ICC International Commercial Mediation Competition, em Paris.
Aquele choque causado pela fatídica qualificação de “armário” foi finalmente dissipada, no meu íntimo, dando lugar ao entusiasmo e à certeza da boa e inovadora metodologia de formação profissional (que, pelo que tenho acompanhado em diversas faculdades de Direito, têm se traduzido em mudanças – mais ou menos sutis – na metodologia de ensino tradicional do Direito).
Fui então relacionando os fatos e dando significação à obra do poeta que intitula este artigo ao dizer: “Como é que o mar, tão grande, cabe numa janela tão pequena?”
Fala-se muito em conflito de gerações. Conflito, ou lide, aprendemos no Direito, segundo o tradicional conceito de Carnelutti é a pretensão resistida. É esta a lida diária do advogado, como compor o conflito em busca da paz social? Da harmonia? E por que não dizer, da felicidade?
Noutras palavras, porque não abrir aquele “armário” e permitir que o ar puro e fresco areje as roupas e as mantenha na moda? E ir além disso, para reformar as imprestáveis ou também se vestir de novas roupas?
A inovação, a criatividade que os novos tempos reclamam não traduzem conflitos. Pelo contrário, podem traduzir harmonia, basta que o velho veja o novo, com a confiança plena da renovação.
Com esta filosofia, diferentes gerações convivem harmoniosamente, aliando experiências e inovações, numa atmosfera de muito dinamismo., a final, como diz o poeta, “temos muitas milhas a percorrer”.